Seria mesmo possível prever o futuro em Cartas de Tarot?
Seria mesmo tangível o sonho de um poeta ou o calor de um grande amor?
A jornada não parece mais como um rastro de um animal ferido, e sim, como um céu mutável e incompreensível, sensível apenas aos corações e mentes abertos!
Mais um fôlego! Mais divagações de um Dragão que não teme ser dissecado ou amado! Nada mais resta desses sonhos a não ser a Ação! O Drama que almeja ser explorado, que não pode ser reconhecido, mas pode ser compartilhado!
"Os esqueletos de mil mariposas dormem em meu recinto" não eram borboletas, suas asas eram paralelas ao solo, sobre elas, as flores em sua eterna busca em direção à luz.
CAPITULO V
MINHAS ÚLTIMAS GOTAS D’ÁGUA
Meu corpo ainda estava dormente e eu não sabia bem
como me movia. Não havia precisão nos meus movimentos, eu mal os sentia. Na
verdade, sentia uma mistura nova de novos sentimentos, sabores que ainda não
havia experimentado – como um picolé de mirtilo! No frenesi inconstante dessa
experiência inusitada transformei meu antigo corpo metálico em uma carruagem de
metal e enterrei todos os outros corpos ao meu redor, fiz suas covas em círculo
ao redor de uma velha amiga árvore. Exaurido da picada, findei minhas forças
nas 32 covas. Com calos nas mãos, queimado de sol, dei início ao primeiro dia
de um ano que se chamaria, Trabalho.
No meio de um
florido findo campo de batalha, olhava ao redor a fim de encontrar uma
direção, e não encontrava. Não haviam setas, nem mapas, nem rumores, nada que
me motivava. Quedei-me ali pensando em todos os lugares que queria conhecer! Em
todas as aventuras que poderia vivenciar e nos beijos que daria! Nos sonhos que
teria! Nos desejos que... perdi vários anos divagando sem sair do lugar.
Quando num dia de chuva, a tormenta revelou um
esqueleto de coruja que eu havia enterrado! Era a Coruja Profana! Que riu de
mim, agora dizendo: Ser ou não ser, eis a questão! Sem saber
exatamente o que sentir, ri também! Que absurdo crânio de coruja me cita um
fantasma paralítico de um bardo no meio da tempestade!? Dei as costas para a
tormenta e disse a mim mesmo: “faça o seu pior”! Descalço e semi-nu, caminhei...!
Sim! Eu caminhei! Simples assim! Sem saber pra onde ou
porquê! Eu comecei a caminhar! Sem perceber desci do monte Olimbo, descobrindo
que existem flores como copo de leite e taça de vinho, que me despir pode ser
uma arte, talvez um ofício, mas me vestir bem tem haver com carinho e não
compromisso. Fui descobrindo que qualquer descoberta era uma porta aberta para
uma aventura e que essas as aventuras
nem sempre me levavam a algum lugar, dependia se eu queria ir. E, que,
por não saber o que queria eu ia pra qualquer lugar! Não necessariamente um
lugar feliz!
Aprendi a abrir portas! E deixa-las abertas! E ri
muito disso tudo! Muito me diverti! Até descobrir um novo padrão e nele me
prendi, novamente parei, agora não mais inerte, mas em movimento, eu achava que
estava indo mas não saí do lugar.
De tanto caminhar nos mesmo lugares, com decorações
diferentes, amoleci a terra que virou pântano. Alagada com meu suor,
lágrimas e sêmen, a terra se umidificava. O odor almiscarado me dava
prazer e asco, eu gostava daquela sensação de poder e entrega, sentir o ranço
pegajoso das caldas orgânicas nos seus mais profundos gozos! Eram as galas da
luxúria que com suas lambidas me pregava sua cola saborosa! Que deleite! Que
delícia! Sentia as ondas e os dedos que roçavam em minha pele. Eu soltava
baforadas de neblina pelos olhos que diziam ne
me quitte pas a toda miserável centelha de vida.
Realmente não sei por quanto tempo fiquei nesse
pântano... Sei que minha carruagem de metal se danificou irremediavelmente, mas
ainda era muito boa para viajar!
Nesse mundo orgânico não havia espelhos e eu não tinha
um referencial a não ser eu mesmo! Então a memória de mim dançou sobre a relva
na forma de um guarda-chuva vermelho, debaixo daquela figura oriental estava Eu
no meio de emoções cadentes e decadentes, sem me molhar. O guarda-chuva me
possibilitou ver cada uma de minhas mil faces nas gotas de chuva, mas as gotas
não grudavam na minha pele. E vendo uma a uma das minhas faces eu pude
retirá-las até a última que eu não encontrei, em nenhuma gota, até a última
gota!
Chorei, como um menino! Lindo! Chorei de soluçar! Foi tão bonito! O Nariz
escorrendo, inchado e vermelho! Que olhos mais brilhantes! E reluzentes, eu não
vi... mas as flores e vermes que ali se moviam evoluíram comigo a mais um passo
dessa jornada que eu chamava Perigo.
http://www.youtube.com/watch?v=8CkSd5oYi_U