sábado, 18 de dezembro de 2010

Mapeando...

Durante muito tempo, quis ser a montanha
Mal sabia que para chegar ao alto não precisava negar as asas
A ilusão de que a força estaria nas bases sólidas e não na capacidade de ser suave e leve

Ah! As pernas não são mais frágeis
Robustas, capazes de correr, mas não de voar!
O peito continua leve, impelido a abrír-se
Pernas de Rocha e peito de Vento!
Uma Quimera como outra qualquer cada dia mais
Dessignificado

Quis chegar até o topo da montanha
E lá...
Um vale, um lago, um deserto, um vulcão, uma cidade, um templo, o mar!
Daqui de cima vê-se tanto
Tanto para mapear

Nesse momento, ser cuidadoso e curioso
Preenchido pelo profundo ar da montanha
Contemplando o imenso horizonte que chama tantas vezes!
Ingênuamente mapear
com a tola pretensão de que eles serão os mesmos

Sabiamente para-se sentindo o prazer
Na montanha!
Em vão a vida mapear, tampouco os sentimentos

Aqui, chegar por apenas caminhar
Agora, cansado
Quando quiser novamente andar
Se um poço ou oasis chegar
Pode sempre ir

Mas mapeando se vive
Mapeando se sonha
Mapeando encontra-se um desejo de ir

Eu, vou aberto, disposto a encontrar novos lugares que passaram ilesos aos meus mapas!

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Apolo-gies!

Me desculpo pelas reticências! Mas vou evitá-las!
Ainda vivo essa imensa indefinição! Talvez devesse me contentar com ela e deixar essa louca atitude de querer ilimitar-me, mas isso eu não poderia desculpar!

Me desculpo pela ausência! Tem tantas pessoas exigindo de mim e demandando de mim que eu nem sequer tenho tempo para me reconhecer e conversar comigo! É possível que um dia eu me perca de mim, mas eu me encontro porque me amo.

Me desculpo principalmente por ainda não conseguir terminar um texto...um tecido... uma tapeçaria... talvez Penélope me entenda!

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Tudo o que está aqui está lá, o que não está aqui não está em lugar nenhum" Vishvasara Tantra

           Textos longos, muitas metáforas, não sou bom em agradar meus leitores... em tempos em que se não houver neon, luzes, roupas escalafobéticas, efeitos especiais e uma dança engraçada é difícil prestar atenção no que os outros dizem por mais de 3 min... eu prefiro permanecer em silêncio, talvez agora alguns dos que me conhecem entendam um pouco mais do meu Silêncio... Sem drama, estou feliz em compartilhar!
Aí está o 3o Capítulo.



CAPÍTULO III

O Encontro

          “Melhor impossível!” - bradou um outro cavaleiro do rei. A situação era desafiadora: a floresta, o castelo, a maldição, dizia o audaz cavaleiro ao rei, que era o momento dos cavalheiros mostrarem seu valor e ocuparem seu lugar na história!
          A empreitada foi monumental! Um exemplo único de organização, método, dedicação e presteza. Rapidamente os cavaleiros recrutaram e treinaram os cidadãos mais dispostos, organizaram o Departamento de Logística, conseguiram os meios e até um patrocínio de uma multinacional. No dia da partida à floresta houve uma cerimônia onde uma trovadora juvenil estimulou a comitiva com um espetáculo de magia e som, que me deixou extremamente desorientado e feliz! Eu estava novamente em estado de alegria e deslumbramento. Mas desta vez, eu iria para a floresta.
         Da mesma forma que o globo luminoso deixava seus cabelos escorregarem na face sinuosa da terra, a empreitada inexorável avançava para a floresta. O objetivo era enfrentar, seja lá o que houvesse naquela floresta, trazer as pedras para o castelo e viver feliz para sempre. Os meios eram abundantes e as estratégias estudadíssimas; a vitória, certa!
          Meu andar altivo me misturava com todos os outros. Mas diferente dos outros, não podia conter minha emoção em ver toda a exuberância que nos rodeava e por mais civilizado que fosse, o que se movia em mim era o desejo de me despir e roçar meus pêlos com os grãos da terra, tocar os troncos e me embevecer no néctar das flores.
          Tive vontade de compartilhar o que sentia, de ver nos olhos de meus iguais o espelho dos meus. Qual não foi minha emoção quando vi nos olhos dos mais próximos o olhar mais aberto - arregalado eu diria - e mais cego. Assim como eles eu agi, por muito tempo eu fui assim também, mas agora, que por um instante, parei para olhar, percebi o que eu era e não sou mais. Um medo me assolou velozmente, uma rajada de dúvida derrubou meu elmo e minhas pernas não souberam se iriam seguir nos sentidos da comitiva ou se iriam andar contra toda corrente, parei.
         Estacado no chão como uma árvore, fui tratado como tal, e não tardou para que um machado de Procrusto me acertasse o tronco, me levando ao chão. Consciente como um espectador silencioso eu percebi a comitiva passando sobre mim, essa sensação foi como trazer à lembrança a memória que nunca tive de não ter estado em Lethes. E divagando lucidamente sobre qual seria o número do calçado daqueles pés que me esmagavam, senti uma agulhada na base do pescoço, que estalou um choque em meu ombro direito, um pequeno escorpião com sua peçonha aguda havia me doado seu veneno e eu pude, depois de muito tempo, parar completamente.
          Silêncio e escuridão era o que havia, quando abri meus olhos ávidos da vulgar luz dos dias consumidos. Movi meu tronco, de pernas amputado, buscando desesperadamente algo conhecido, um lugar de conforto em que me apoiar, em vão. Nada daquilo fazia sentido para mim, eu era um nobre, um cavaleiro do rei, porque me amputaram, achataram e abandonaram?
         Devo ter perdido algumas horas criando teorias de conspiração em que todos eram culpados! Outras tantas criando desculpas santificadas que retiravam a culpa do mundo e colocava em mim - mea culpa – e quando o primeiro raio de sol tocou meus olhos e não se misturaram à lama que eu era, finalmente, me dei conta de que nisso tudo eu já não podia me apoiar, não havia amparo para mim. Nem lágrimas a chorar e ninguém que pudesse me ouvir, pois o veneno do escorpião anestesiara minha face e minha garganta. Era eu e apenas eu.

terça-feira, 4 de maio de 2010

TERCEIRA POSTAGEM - "Eu não tenho muito, quase nada, só a sombra do meu corpo sobre a estrada, misturada a galhos secos, eu não tenho becos, só perguntas. Minha alma e minha culpa dormem juntas"

Fiquei muito feliz com alguns comentários que recebi aqui pelo blog e pessoalmente. Quando digo que o comentario é importante para mim eu estou sendo sincero. Eles fazem um blog ter sentido, senão, continuaria escrevendo para mim e não publicaria...

Comentarei alguns comentários:

Tenho problemas com poemas que não possuem uma forma poética
R= Bom, acho que a forma poética é algo muito mais profundo do que rima e métrica, creio que está relacionado com níveis de significância e sonoridade, ritmo... enfim... Falando por mim, quando me proponho a escrever em verso eu estou atento à alguns segredos que guardo nessa forma... é como colocar pequenas pérolas onde não é óbvio, e somente aquele leitor mais curioso e apaixonado vai conseguir ir além do texto e suas palavras... é a forma ditando um pouco de conteúdo...

Não sinto a obrigatoriedade de ser feliz. Na vida tenho o que mereço, exatamente o peso e a mesma medida daquilo que ofereço é o que tenho de retorno (...) A felicidade é um vício que torna seus seguidores seres famintos e insaciáveis. EU sou e estou aqui.
 R= Talvez um problema aqui seja o conceito de Felicidade. Nunca imaginei que ser feliz fosse ficar o dia todo rindo e cantando musical em uma limosine comendo McDonnalds... mas para algumas pessoas é... Minha felicidade tem haver com sofrimento e dor, tem haver com descoberta e aventura, tem haver com trabalho duro, poesia, vida e morte... acho que tem mais haver com plenitude...
R=Quando à questão do "merecimento", acho que todo ser vivo não só MERECE, mas tem o DIREITO de se realizar plenamente, e só.
R= Bom... eu sempre fui viciado em algo... se for pra ser viciado então que seja em Felicidade então! Eu Assumo!

A vida realmente não se resume a um escritório e a uma única opção, ainda bem! hehe
R= Eu realmente não sei... e se resumir? E se isso bastar?? Sei que não basta pra mim... mas não consigo julgar as pessoas que estão satisfeitas com isso!

Tá reclamando de QUÊ???? Tens mais FOLGAS que trabalho,fins de semanas, escapadas noturnas,férias, feriados... E ainda tem tempo de FICAR ESCREVENDO EM BLOG!!!!????
 (...)às vezes tenho vontade de fazer, largar todos os meus empregos, e ir morar numa floresta, às margens de um rio... = )
(...)Nota miiill! no meu teste.  (...)
 R= Como dizer isso... eu assisti uma entrevista com a Elis Regina e em um trecho ela falava sobre "pessoas bacanas" ela disse algo como: pessoas bacanas são áquelas que você pode conversar olhando nos olhos. E que o problema das pessoas é uma questão de Ibope, o que é uma pena pq ngm vive de Ibope, essas pessoas esquecem que tem que comer, tem que vestir, tem que viver... pois é...

(...) e digo que consigo mudar o ângulo e até chutar o pai da barraca quando é necessário. (...)

 R= hehehe... sei que foi um erro de digitação (espero), mas achei muuuuito legal! Se eu fosse Freudiano eu diria que foi um "ato falho"... mas como não sou psicólogo e sim artista eu fico com a mágica que foi ler isso e entender o que meu amigo quis dizer e o que esse "erro" me sugeriu! Acho que é muito isso mesmo! Eu tow PUTO DA VIDA com esse "pai" (Cálice! de vinho tinto de sangue), esse Pai metafórico que é a minha maneira de entender essa necessidade de PROVER... prover meu sustento tem mesmo que ser tão dolorido? tem que ser sofrível assim?? Me lembra muito o Mito do Carvalho de Deméter... e da maldição de Adão... e acho que o Ser-humano já evoluiu bastante para não precisar ter que aceitar isso... mas aceita!! E isso é que não me faz sentido!... Evoluímos tanto tecnologicamente para termos uma vida mais "confortável" e ao invés disso nos tornamos mais dependentes e menos "humanos" passamos ainda mais tempo trabalhando do que vivendo e o nosso trabalho na grande maioira das vezes não nos dá prazer...os frutos dele sim, mas ele em si, Não! E isso não seria um problema grande se passássemos 4 horas trabalhando e 20 vivendo, só que na verdade é o contrário!... e isso não é só comigo é com 99% da população mundial...

(...) Agora sua responsabilidade é grande, precisa continuar escrevendo, pois de sua cura depende a cura de outra pessoa (...)
 R= Tenho pena da pessoa que está esperando essa "cura"... e que está dependendo de MIM! No fim de nossas vidas a única certeza é a de que estamos Sós! E como me disse uma velha bruxa certa vez: Pra mim você é um problema seu! (é muito libertador ouvir isso!! Hahaha) Aproveito e divulgo um curta brasileiro muito bom! Chama-se "Borralho"
Youtube Borralho – parte 1 - http://www.youtube.com/watch?v=Ejs437hKohY
Youtube Borralho – parte 2 http://www.youtube.com/watch?v=ueBPFs9sgmg


(...) creio que ja não haja forma de fugir deles, e talvez seja mesmo necessário toda essa pressão e até um pouco de angustia para deixar a vida mais temperada (...)
R= A intenção não é fugir deles, nem enfrentá-los... se trata de olhar para eles... e dar sentido!

(...)onde mora a felicidade??
R= Meu anjo... seja lá o que isso (felicidade) for... Só você pode saber onde!

(...)às vezes penso, estaria eu enganando as pessoas? (...) Será que sou tudo isso q falam? (...) Penso em salvar pelo menos o pedacinho de mundo em q vivo..Quero ser boa, mas a coruja profana q vive em mim me impede de agir com bondade e delicadeza
 R= Acho que a pergunta crucial seria: Você tem sido você mesma?... não importa muito as outras pessoas nessa hora... pq se vc estiver sendo sincera consigo. Não há o que se arrepender...
R= O mundo em que vc vive é o mesmo mundo com ou sem você... a Coruja Profana é só um dos símbolos conjurando um símbolo que te liberte ela a libertará!... inclusive dessa obrigação de ter que ser boa e delicada...

as vezes me sinto meio burra quando leio o q vc escreve ..pq nem sempre entendo de verdade o q vc quer dizer... mas aki ta um pouco mais facil eu acho..=]
 R= Não acho que seja burra... apenas esperta demais para cair na ilusão de que "entendeu o que eu quis dizer"... acho muito difícil que qualque pessoa que leia um texto poético entenda o que o autor quis dizer... eu ouvi uma entrevista com o Drummond falando sobre o tal poema da "pedra no caminho" e eu ria de chorar! A reporter falando sobre o que ele quis dizer e ele dizendo, eu disse que tinha uma pedra no caminho! só isso!... Eu acho lindo esse poder que a arte tem de ser arte, depois que ela foi criada ela não é mais do criador... esse texto que eu escrevi não é mais meu! É seu! O leitor! O que é que eu escrevi?? Eu preciso que VOCÊ me diga! porque eu sei o que eu quis escrever... mas o que eu fiz! Só quem sabe é você!! Por isso sou muitíssimo grato por ter lido! e Dado Vida à minha obra...


Num intindi nada. Cacete de texto difircil. Abstrato. ENfim, bom mas claro só pra quem tem uma mente muito aldaciosa e aqueles que partilham dos sentimentos.

R= Pois é colega, um sábio tira ensinamento até de uma pedra... um tolo pode ler o livro mais sábio e ainda sair vazio....
Audaciosa*
 
Peço desculpas pelas minhas palavras meio duras... mas eu sou meio bronco mesmo... e correndo o risco de parecer plagiador acho mais divertido CtrlC CtrlV o Bardo: (kkkkkkk.... isso ficou muuuuuito pedante!!!)

(Saem Oberon, Titânia e séqüito.)

PUCK - Se vos causamos enfado por sermos sombras, azado plano sugiro: é pensar que estivestes a sonhar; foi tudo mera visão no correr desta sessão. Senhoras e cavalheiros, não vos mostreis zombeteiros; se me quiserdes perdoar, melhor coisa hei de vos dar. Puck eu sou, honesto e bravo; se eu puder fugir do agravo da língua má da serpente, vereis que Puck não mente. Liberto, assim, dos apodos, eu digo boa-noite a todos. Se a mão me derdes, agora, vai Robim, alegre, embora.(Sai.)
(W. Shakespeare)

-------------------------O segundo Capitulo do tal Conto que estou escrevendo... espero que gostem!


CAPITULO II
Um Toque à Distância

             Na manhã seguinte o primeiro cavaleiro do rei foi dar à beira da floresta e com sua voz de trovão bradou, em resposta aos cantos que vazavam pela floresta, o mais límpido hino que pôde ser ouvido - os Cavaleiros do Ouro tinham o dom da oratória e não havia quem não se encantasse com tamanha eloqüência e acabasse concordando com eles. Assim que terminou seu discurso todos que o ouviram estavam sem palavras, não havia argumento capaz de contradizer lógica tão exata, a matemática de suas palavras envolta da forma mais que parnasiana não deixava espaço para dedução, indução ou sofisma algum.

             As vozes da floresta se calaram num silêncio dolorido e com o peso desse silêncio os grilhões que aprisionavam as faces nas paredes do castelo foram rompidos. Todas as facetas, antes amordaçadas, se libertaram, quebrando as paredes e os alicerces de rocha do castelo. Em um frenético bater de dentes, enlouquecidas começaram a falar tudo aquilo que era o não dito. Tudo o que era máscara e embuste, agora zanzava pelo castelo revelando, como um espelho, tudo o que era vedado. As máscaras lambiam a face e as coxas da gente civilizada enquanto o castelo ruía.

           Agindo de maneira pronta e abnegada as damas do castelo preencheram com seus pertences os espaços vazios dos alicerces que ruíam, todas as roupas e jóias das damas do castelo agora ocupava os espaços antes preenchidos de mentira, e assim, evitaram que o castelo desabasse.

           Estava claro que os argumentos da floresta não estavam sob o jugo da retórica e do pensamento racional, os nobres, é claro, suspeitavam disso, mas, como seguem o protocolo da Guerra Justa, escolheram usar o uso progressivo da força garantindo assim a pureza de seus brasões.

            Nos dias que se passaram pairava uma insegurança mordaz em todo o reino, algo havia sido tocado, ou melhor, remexido! O bravo cavaleiro de brado tão loquaz ficara mudo e catatônico, oscilava entre a gentil subserviência e a agressividade gratuita. As damas sem suas vestes e jóias tiveram que usar armaduras para não andarem despidas e a cada dia que passava se pareciam mais com os homens e executavam as funções dos homens com muita competência e destreza.

            As verdades estavam despidas da Santa Hipocrisia e andavam nuas pelas ruas, ninguém mais do reino cantava ou falava alto. Era difícil manter os olhos nos olhos da outra pessoa em uma conversa. Todo esse mal estar gerou nos cidadãos civilizados uma atitude constantemente defensiva, eles passaram a se comunicar através de frases prontas com respostas esperadas. Tinham tanto medo de serem revelados por suas máscaras que ao invés de usá-las estavam sendo por elas usados! Como que para apaziguar a boca errante e frenética de suas personas berrantes, se sujeitavam à chantagem delas e assim abdicavam de suas próprias experiências de vida, relegando preciosos momentos às suas máscaras estelionatárias.

           O Castelo ruía lentamente, e com ele o reino. Os nobres Cavaleiros estavam apreensivos, mas não poderiam demonstrar dúvida ou insegurança a despeito das faces faladoras, sentiam-se na obrigação de ser o exemplo e por isso não escutavam que seus joelhos estalavam e não notavam que toda a noite mordiam a si mesmos num bruxismo de angústia que todos desconheciam. À noite, enquanto dormiam, não estavam no controle, a dimensão do onírico e do mistério era o local onde os nobres cavaleiros não estavam no controle.

           O Rei precisava fazer algo a respeito de todos esses acontecimentos, e sozinho não podia fazê-lo, foi então que a racional Rainha, como a peça branca de xadrez sugeriu: era preciso estabelecer prioridades. O castelo não iria permanecer firme tendo como alicerces as roupas e as jóias das damas e nem fazia sentido toda aquela inversão de papéis com mulheres arquitetando guerras e homens fofocando da vida alheia. A grande tarefa era reconstruir a célula primordial do reino: o castelo! Havia um porém, as pedras para reconstruir o castelo só podiam ser encontradas dentro da Floresta.

sábado, 24 de abril de 2010

SEGUNDA POSTAGEM - "A Fênix, pássaro do sul, arranca o coração do peito de um forte animal do oriente" Frei Basile Valentin

               Sempre fui dado à poemas, mas mudar é preciso, viver não mais... Sei que guardo com carinho a lembrança dos suicidas que acima de tudo eram sinceros. Não é fácil encarar a si mesmo com franqueza, e não acho fraqueza sucumbir ao abismo insignificante que nos impuseram como: vida.
              Profundamente acredito que vida não se explica, não se define... apenas se exemplifica. Uma pena que a maioria dos exemplos tenham inspirado morte.
              Lembro do Neruda que vio lentamente pessoas morrerem, e, ao invés de se laçarem no abismo, definharam na expectativa de um dia que...!
              Lembro da Cecília em um livro post mortem me dizendo o que a disse um dia: Tu tens um medo! Acabar! Não vês que morre todos os dias... no amor, na dor, na dúvida, no desejo...
              E de quando eu era criança e brincava de matar as pessoas, para assim que elas renascessem eu pudesse amá-las de novo com o mesmo carinho e confiança.
              Creio que morri com aquela palavra, que morri com aquele olhar, que morri com aquela ausência e nem sei mais como era o meu primeiro corpo antes de morrer tantas vezes em um só dia.

              O TEXTO é um conto que escrevo - uma fantasia que despe a fantasia que eu uso no dia a dia - que é tão real como o abraço que eu dei nas pessoas que amo, que não sei dizer do começo, tampouco como e quando será o fim.


CAPÍTULO I

A Coruja Profana

       No dia que me abandonei eu era pura magia e esplendor. Brilhava em mim o sol dos vencedores e o ouro dos homens sábios que virtuosamente abdicaram de si mesmos em prol da própria glorificação. Eu era um deles, mais do que nunca fora em minha vida, eu era mais um que comungava daqueles ideais de sucesso e nobres sentimentos. Para além disso! Pairava sobre mim uma suave brisa que me dizia: Segurança.


       Eu disse, sim! Convicto do meu mais novo e brioso ideal. Um ideal limpinho e higiênico, que não polui e não ofende, que não choca os amigos da família e que finalmente iria me redimir, então eu poderia vestir as calças e com elas a gravata para que eu nunca esquecesse o nó que por vezes ainda me sufoca.

       Era óbvio, naquele instante, que o mundo havia me dito SIM, finamente, aquela aprovação pavorosa que eu tanto almejava me atingiu com seus delírios ébrios. E num élan de vitória a Coruja Profana de Atenas tocou meu braço direito e num rasante perfeito arrancou a chave que eu trazia tão soberbo junto às insígnias que eu nunca almejei.

       Naquele mesmo dia, dentro da mais densa floresta, apodrecia no pântano meu corpo de antes. Quando o abandonei ele ainda se esforçava em compreender e aceitar as pestes asquerosas que moravam na podridão e na baixeza. Dele, eu não tive notícia por anos, afinal, eu agora vivia das honrarias dos amantes do metal, um metal que reluzia ouro e que valia mais e mais a cada dia! Não tinha tempo de me ater às insignificâncias de floresta nenhuma.

       Estava sendo forjado no fogo da batalha, apesar de não ser feito de metal. Eu fui forjado ou mesmo talhado para caber na fôrma do sucesso. Que de fato não deixava dúvida de sua luz clara e resplandecente. Era o que eu queria e o que mais eu deveria então querer?

       Eu era a pura alegria, aquela destinada somente aos nobres, aos senhores cavaleiros que saíram das estrebarias e foram reinar ao lado das belas damas do castelo. Digna apenas aqueles que empunhariam suas espadas, seguros dos brasões em seus escudos, prontos para defender com a própria majestosa vida, o Graal Sagrado.

       Foi então que veio da antiga Floresta, que eu houvera esquecido, um canto profano que blasfemava contra toda a nobreza e honra dos áticos senhores de espadas douradas. As árvores da maldita floresta choravam as veias venosas das damas do castelo e por elas secavam seus troncos de sentirem uma pusilânime piedade para com essas belas mulheres civilizadas que sabiam muito da guerra e de si mesmas, mas que não entendiam absolutamente nada da terra.

       Quando o rei convocou seus bravos guerreiros para enviá-los à óbvia empreitada, o dia havia sido luminoso e pueril, as nuvens nem tocaram o celeste azul turquesa de Urano. Mas durante a reunião, os mais honrados se perderam em conversas sobre a maravilhosa vida que tinham e todas as fantásticas atrações que passara naquela última caravana. E quando ao entardecer o lilás se revelou no céu, bem no meio do laranja-avermelhado e do preto-azulado, estremeci. E não pude deixar de interromper as gentilezas dos nobres para dizer que o perigo estava próximo.

       Altivos como eram, fizeram pouco caso das minhas aborrecidas advertências e me deixaram de lado, deliciando-se com seus requintados e filantrópicos banquetes. Sempre houvera a suspeita de que eu seria um engano, por mais majestosos e nobres que meus atos fossem, pairava a suspeita que eu não fosse de metal. E por isso qualquer alquimia seria vã para enobrecer a mim. Mas éramos todos polidos demais para revelar certas faces que deviam ficar presas nas paredes do castelo.

       Naquela noite não pude dormir e pela janela de meu claustro pude ver que a lua tramava algo perverso, não saberia jamais prever ou decifrar o que era. Mas só podia ser algo perverso, pois delineando e engrandecendo seu corpo branco sinuoso pairava uma auréola que brilhava como o ouro do rei, mas era da cor escarlate, um vermelho tão profano que nem o sangue da mais nefasta monstruosidade poderia revelar.


sábado, 3 de abril de 2010

Triste para começar... mas é um começo... começo por uma ferida!

Tenho uma particular facilidade de falar das coisas que sinto através de poemas, não que seja uma maneira de esconder o que sinto, pelo contrário, as imagens que se formam com os sons e as formas fazem os níveis de significância se aproximarem mais do que seria a minha verdade.

Esse poema aconteceu em uma tarde de quarta-feira, por volta das 15horas, quando eu, no meio do meu expediente de trabalho, estava com a bunda dormente, a vista cansada e as mãos entrevadas de tanto tic e tac nas teclas. Repentinamente um raio de luz tocou minha cabeça, sem que eu percebesse, me levantei para abrir a janela, caminhei até a porta e senti o vento me empurrando para o mundo lá fora... a tarde era dourada e sedutora, as árvores cantavam melodias de heróis, só me faltava o cavalo, a espada e uma Aventura!...
...
Quisera eu! Me faltava a coragem de ser esse Herói!
Sufoquei meu ímpeto selvagem e medieval, sentei na cadeira para voltar a trabalhar, mas já não era possível, havia sido ferido por uma seta de luz que acertou minha cabeça... o poema saiu molhando meu rosto.
Quando foi exatamente que tiveram a idéia GENIAL de trocar a ordem das palavras na frase: "Eu trabalho pra viver", para "Eu vivo para trabalhar"? Esse cara deve ter ganhado um Nobel que nem o do Ford, o cara é um Gênio! Ele reinventou a escravidão e deixou ela tão bem maquiada que nem os trouxas do século 21 conseguem se perceber!! Acho Genial! ¬¬

É muita coragem viver uma vida pela metade, é muita coragem viver de migalhas, é muita coragem ser mais um covarde.
Ai vai o Poema:

Eu não tô Feliz

De vez em quando eu penso em largar tudo
Eu não tô feliz
Minha vida parece a luz artificial de uma lâmpada fria
Preenche os espaços
é forte que dói de olhar
Mas não aquece meu coração

Essa luz ilumina tudo que está aqui dentro
Dentro dessa sala onde o ar é pouco
E a respiração é curta

De vez em quando eu abro uma janela
Uma porta
e deixo vento correr livre
E isso me traz paz
Me faz quase feliz

Quase feliz é o lugar mais perigoso

Quando vai acontecer de eu ir lá fora?
E ficar à mercê da luz escaldante do sol!
Ficar aberto às intepéries da natureza
Da minha própria natureza... que não é artificial!

Meu medo amarra minhas pernas nessa cadeira de escritório
e o peso dessa mesa cheia de papéis
Parece tão maior que eu
Quando os papéis de cifras me fizeram escravo?
Já duvido da minha própria felicidade
E se isso não é loucura eu também já não sei do que se trata

A verdade é que eu sou bem feliz
Embora eu saiba que o que eu faço não me deixa feliz sempre
Eu sei onde mora a felicidade
E vivo das migalhas tiradas em fins de semana
Escapadas noturnas
Férias e feriados
olhares furtivos
Casquinhas de felicidades que sobraram na mesa