sábado, 24 de abril de 2010

SEGUNDA POSTAGEM - "A Fênix, pássaro do sul, arranca o coração do peito de um forte animal do oriente" Frei Basile Valentin

               Sempre fui dado à poemas, mas mudar é preciso, viver não mais... Sei que guardo com carinho a lembrança dos suicidas que acima de tudo eram sinceros. Não é fácil encarar a si mesmo com franqueza, e não acho fraqueza sucumbir ao abismo insignificante que nos impuseram como: vida.
              Profundamente acredito que vida não se explica, não se define... apenas se exemplifica. Uma pena que a maioria dos exemplos tenham inspirado morte.
              Lembro do Neruda que vio lentamente pessoas morrerem, e, ao invés de se laçarem no abismo, definharam na expectativa de um dia que...!
              Lembro da Cecília em um livro post mortem me dizendo o que a disse um dia: Tu tens um medo! Acabar! Não vês que morre todos os dias... no amor, na dor, na dúvida, no desejo...
              E de quando eu era criança e brincava de matar as pessoas, para assim que elas renascessem eu pudesse amá-las de novo com o mesmo carinho e confiança.
              Creio que morri com aquela palavra, que morri com aquele olhar, que morri com aquela ausência e nem sei mais como era o meu primeiro corpo antes de morrer tantas vezes em um só dia.

              O TEXTO é um conto que escrevo - uma fantasia que despe a fantasia que eu uso no dia a dia - que é tão real como o abraço que eu dei nas pessoas que amo, que não sei dizer do começo, tampouco como e quando será o fim.


CAPÍTULO I

A Coruja Profana

       No dia que me abandonei eu era pura magia e esplendor. Brilhava em mim o sol dos vencedores e o ouro dos homens sábios que virtuosamente abdicaram de si mesmos em prol da própria glorificação. Eu era um deles, mais do que nunca fora em minha vida, eu era mais um que comungava daqueles ideais de sucesso e nobres sentimentos. Para além disso! Pairava sobre mim uma suave brisa que me dizia: Segurança.


       Eu disse, sim! Convicto do meu mais novo e brioso ideal. Um ideal limpinho e higiênico, que não polui e não ofende, que não choca os amigos da família e que finalmente iria me redimir, então eu poderia vestir as calças e com elas a gravata para que eu nunca esquecesse o nó que por vezes ainda me sufoca.

       Era óbvio, naquele instante, que o mundo havia me dito SIM, finamente, aquela aprovação pavorosa que eu tanto almejava me atingiu com seus delírios ébrios. E num élan de vitória a Coruja Profana de Atenas tocou meu braço direito e num rasante perfeito arrancou a chave que eu trazia tão soberbo junto às insígnias que eu nunca almejei.

       Naquele mesmo dia, dentro da mais densa floresta, apodrecia no pântano meu corpo de antes. Quando o abandonei ele ainda se esforçava em compreender e aceitar as pestes asquerosas que moravam na podridão e na baixeza. Dele, eu não tive notícia por anos, afinal, eu agora vivia das honrarias dos amantes do metal, um metal que reluzia ouro e que valia mais e mais a cada dia! Não tinha tempo de me ater às insignificâncias de floresta nenhuma.

       Estava sendo forjado no fogo da batalha, apesar de não ser feito de metal. Eu fui forjado ou mesmo talhado para caber na fôrma do sucesso. Que de fato não deixava dúvida de sua luz clara e resplandecente. Era o que eu queria e o que mais eu deveria então querer?

       Eu era a pura alegria, aquela destinada somente aos nobres, aos senhores cavaleiros que saíram das estrebarias e foram reinar ao lado das belas damas do castelo. Digna apenas aqueles que empunhariam suas espadas, seguros dos brasões em seus escudos, prontos para defender com a própria majestosa vida, o Graal Sagrado.

       Foi então que veio da antiga Floresta, que eu houvera esquecido, um canto profano que blasfemava contra toda a nobreza e honra dos áticos senhores de espadas douradas. As árvores da maldita floresta choravam as veias venosas das damas do castelo e por elas secavam seus troncos de sentirem uma pusilânime piedade para com essas belas mulheres civilizadas que sabiam muito da guerra e de si mesmas, mas que não entendiam absolutamente nada da terra.

       Quando o rei convocou seus bravos guerreiros para enviá-los à óbvia empreitada, o dia havia sido luminoso e pueril, as nuvens nem tocaram o celeste azul turquesa de Urano. Mas durante a reunião, os mais honrados se perderam em conversas sobre a maravilhosa vida que tinham e todas as fantásticas atrações que passara naquela última caravana. E quando ao entardecer o lilás se revelou no céu, bem no meio do laranja-avermelhado e do preto-azulado, estremeci. E não pude deixar de interromper as gentilezas dos nobres para dizer que o perigo estava próximo.

       Altivos como eram, fizeram pouco caso das minhas aborrecidas advertências e me deixaram de lado, deliciando-se com seus requintados e filantrópicos banquetes. Sempre houvera a suspeita de que eu seria um engano, por mais majestosos e nobres que meus atos fossem, pairava a suspeita que eu não fosse de metal. E por isso qualquer alquimia seria vã para enobrecer a mim. Mas éramos todos polidos demais para revelar certas faces que deviam ficar presas nas paredes do castelo.

       Naquela noite não pude dormir e pela janela de meu claustro pude ver que a lua tramava algo perverso, não saberia jamais prever ou decifrar o que era. Mas só podia ser algo perverso, pois delineando e engrandecendo seu corpo branco sinuoso pairava uma auréola que brilhava como o ouro do rei, mas era da cor escarlate, um vermelho tão profano que nem o sangue da mais nefasta monstruosidade poderia revelar.


19 comentários:

dani disse...

Caruso é o que eu sinto ao ler você.

Anônimo disse...

"..houvera a suspeita que eu seria um engano..."
Assim como vc, às vezes penso, estaria eu enganando as pessoas? Tenho tantas coisas beleza,elogios..Será que sou tudo isso q falam? A dúvida me assalta, gostaria de ter certeza dessa perfeição que todos falam.. Penso em salvar pelo menos o pedacinho de mundo em q vivo..Quero ser boa, mas a coruja profana q vive em mim me impede de agir com bondade e delicadeza... Abraços, seu texto é belo.

Wilson Granja disse...

Opa! Mais pessoal e contemporâneo impossível, hein, tio? Bem, e o capítulo II? Já está vindo? Trate de publicar logo ;)

Nina disse...

eu gosoto das suas encarnações de concepções cristãs, misturadas com o seu ponto de vista da não-culpa. e você é bom de conto.

May disse...

gostei das analogias!! muito bom apesar de tantas palavras dificeis heheh!
bjus!

Unknown disse...

as vezes me sinto meio burra quando leio o q vc escreve ..pq nem sempre entendo de verdade o q vc quer dizer... mas aki ta um pouco mais facil eu acho..=]

Sol T disse...

O Sol gosta. O Sol quer mais. ^ _ ^

Unknown disse...

Num intindi nada. Cacete de texto difircil. Abstrato. ENfim, bom mas claro só pra quem tem uma mente muito aldaciosa e aqueles que partilham dos sentimentos.

Bruna.....

Anônimo disse...

Kd o 2º capítulo da Coruja Profana?

Anônimo disse...

...Na minha insônia eu me perguntava: o que a Lua estaria tramando?.
Pela grade coloquei a mão diteita pra fora e uma gota viscosa pingou em meu pulso...

Adas disse...

Anônimo, o "toque a distância" é o segundo capítulo do conto. "a coruja profana" é o capitulo um...

que bela metáfora! quer que eu coloque no texto?

Anônimo disse...

Fique à vontade meu gênio,inclusive para deletar..
Deixe ver se entendi:
1º Cap. A Coruja Profana
2º Cap. Um Toque à Distância ?

...Senti um calafrio e arrepiado peguei no criado mudo um lenço do mais puro linho e limpei o pulso, as mãos, o rosto.. e disse a mim mesmo: Sou lindo, sou poderoso.. Foi quando bateram à porta...

Anônimo disse...

...Num ímpeto abri a porta, e era a Rainha em pessoa, dizendo que acreditava em mim, nas minhas visões, intuições.. e queria me ouvir mais, disse também que mesmo sendo eu tão belo, poderoso e cheio de insígnias, sentia que dentro de mim havia a essência verdadeira, a beleza que só se vê com os olhos da alma. Contou-me que o Rei fora a um banquete e desaparecera... Saímos à sua procura...E eu não parava de ver,ver,ver..

Adas disse...

Entendeu sim!^^

Pq eu deleteraria! Eu achei tão bonito! Quero cultivar...

Aliás! Fique vc à vontade, inclusive para se identificar... mas se quiser contrinuar Anônimo, não ligo!

É um prazer te ter como visitante!

Anônimo disse...

...E nessa busca não sei se caminhamos um dia ou cinco mil anos, todas as minhas visões,todos os meus medos,angústias,prazeres,presentimen-
tos, dúvidas e tantos outros sentimentos que ainda não tinham sido nomeados pelos mais sábios da corte, ela ia registrando em pergaminhos que caiam das árvores, a caneta/pena tinha um toque macio era como escrever sobre a manteiga.

Anônimo disse...

..Ela me disse que não dormia nunca,mas eu percebi com o passar do tempo, um certo transe ou devaneio.. então eu aproveitava para tentar decifrar os seus escritos e os pegava delicadamente de suas mãos, era uma língua diferente, e nos dias em que eu conseguia traduzi-la,eu me via em um espelho, mas cada vez era diferente, eram pedaços de mim... que eu sabia um dia teria que juntá-los..

Adas disse...

Ahhh... pode parar... não justo... quem é vc?

Anônimo disse...

Ok, vou parar, até pq começo a sentir falta dos seus textos..
Quem sou eu? Meu "eu" não permite te responder, mas pedi uma única chance aos astros, aos deuses às fadas..e eles te deram a seguinte resposta:Procure dentro do seu coração o nome de todos os seus grandes amores/verdades,faça uma lista, em seguida delicadamente mostre em SEGREDO( à sós, um de cada vez) os meus escritos, e um deles vai te dizer quem sou eu e esse amor É o MEU amor.Se ele me revelar, então eu também terei minha resposta,e saberei que estou no caminho da verdade, e um dia poderemos nos encontrar e eu beijarei as suas mãos em agradecimento, será o dia do "denguinho" e de muitos sorrisos... Se isso não acontecer, continuarei na minha busca pelos séculos e séculos até...

Adas disse...

Pedir aos astros, aos Deuses, às fadas... é belo e até mesmo justo... mas nada é capaz de decidir por você! Essa é a maldição e a dádiva daqueles que se predispõem à Plenitude: Só você é responsável pelas suas escolhas!!
Faz algum tempo eu aprendi que Ir Atrás dá muitos resultados e rapidamente, mas os resultados são efêmeros... Para aquilo que amo eu prefiro me tornar um solo fértil e um ninho aconchegante, sempre aqui, pronto para receber quem quiser vir, Shamkara Shiva, e se meu lar te agradar poderemos plantar sementes e voarmos eternamente sempre podendo ou não voltar... a liberdade que eu tanto amo me impede de caçar e aprisionar pois isso iria de encontro à minha essência.

Ou seja, não tem pressa, se quiser um dia se apresentar sorriremos, dançaremos e faremos muita festa!... mas se não, já vale pelo o que é!

^^

Namaste!